Controle de cura de indivíduos infectados pelo Trypanosoma cruzi residentes em um município do Vale do Jequitinhonha, MG.

Abstract

Nos últimos anos, o grupo de pesquisas do Laboratório de Doença de Chagas, Universidade Federal de Ouro Preto, desenvolveu nos municípios de Berilo e José Gonçalves de Minas, MG, uma das mais importantes áreas endêmicas da doença de Chagas no Brasil, atividades relacionadas ao controle, epidemiologia, diagnóstico, estudos clínicos, tratamento e avaliação pós-terapêutica da doença de Chagas (DCh). No ano de 2002, foram diagnosticados seis crianças entre 8 e 13 anos de idade, com infecção por Trypanosoma cruzi em um inquérito sorológico em escolares realizado na região, sendo tratadas com benznidazol (4/6) e nifurtimox (2/6). Um dos maiores desafios da Doença de Chagas é avaliar o impacto do tratamento etiológico nos parâmetros clínicos e laboratoriais dos pacientes a longo prazo e determinar a cura. Tendo em vista a grande possibilidade de sucesso terapêutico do tratamento etiológico na infecção crônica recente e seu potencial benefício na evolução clínica da doença de Chagas, a proposta deste trabalho foi dar continuidade a avaliação póstratamento destes pacientes. Os pacientes foram avaliados entre 2005 e 2019. Para avaliação laboratorial foram realizadas hemocultura (HC), reação em cadeia da polimerase (PCR) e sorologia convencional (Enzyme- LinkedImmunosorbent-Assay (ELISA). A avaliação clínica consistiu em: anamnese, eletrocardiograma, raio-X do tórax, e ecocardiograma. Os resultados das técnicas parasitológicas (HC e PCR) e sorológicas indicaram sucesso terapêutico (cura) do tratamento 16 anos póstratamento em dois pacientes (795 e 817), segundo o critério clássico de cura. Os pacientes 806 e 829 mostraram negativação dos exames parasitológicos, os exames sorológicos foram de mais baixa reatividade, e com queda progressiva até 6,5 anos pós-tratamento, sugestivos de processo de cura em curso. Os pacientes 855 e 1661 apresentaram ao longo do tempo exames parasitológicos repetidamente positivos, títulos sorológicos mais elevados, mas com drástica redução nas última avaliações. Apenas o paciente 1661 apresentou evolução clínica ao longo do tempo, demonstrando assim que o tratamento administrado em infecções recentes (< 14 anos) leva a estabilidade clínica ou cura da infeção. O conjunto dos dados indicam a necessidade de avaliação futura destes pacientes para acompanhar sua evolução clínica e/ou sucesso terapêutico.