Prevalência e fatores associados ao acúmulo de gordura corporal e consumo de drogas lícitas e ilícitas em pessoas vivendo com HIV.

Abstract

O objetivo do estudo foi avaliar os desfechos do acúmulo de gordura corporal em mulheres, consumo de álcool em homens vivendo com HIV, e fatores associados aos desfechos em questão. Estudo transversal realizado com 72 pacientes atendidos pelo serviço de atendimento especializado em HIV de Ouro Preto – MG. Foram aferidos dados sócio-econômicos, antropométricos, imunológicos relacionados ao HIV, consumo de álcool, tabaco e drogas. Foram realizadas análises bivariadas e multivariadas. A odds ratio para o acúmulo de gordura foi calculado considerando índices antropométricos. Todas as análises estatísticas foram realizadas no software Stata, considerando 95% como nível de significância. Foram atendidas 25 mulheres e 47 homens, com idade média de 42,5±12,8 anos. 98,6% estavam em uso de terapia antirretroviral, com média de exposição de 6,17±4,4 anos. A maioria da amostra era não branca (68,0%), com renda média de um ou mais salários mínimos (70,8%). Em relação à frequência de excesso de peso avaliado pelo Índice de Massa Corporal (IMC), 32,0% das mulheres se encontravam obesas, enquanto 8,5% dos homens obtiveram o mesmo desfecho (p=0,015). Quanto ao acúmulo de gordura central, avaliado através da circunferência da cintura (CC) e da razão cintura quadril (RCQ), as mulheres tiveram maior acúmulo de gordura frente aos homens. Na comparação entre os sexos, as mulheres apresentaram 5,1 vezes mais chances de serem obesas segundo o IMC, 4,7 vezes mais chances de terem CC elevada, 18,7 vezes mais chances de apresentarem RCQ elevada e 7,7 vezes mais chances de terem percentual de gordura elevado. Em relação aos homens, os resultados mostraram que a prevalência do consumo alcoólico foi de 73,3% da amostra. Dentre dos que consumiam álcool, 88,2% possuíam menos de 39 anos (p=0,039). No entanto, para o mesmo grupo, 88,2% tinham mais que 8 anos de estudos (p=0,039), 67,6% estavam empregados. A maioria dos avaliados (97,8%) utilizavam TARV. Dos que relataram consumo de álcool, 47,1% relataram ser tabagistas e 17,6% relataram uso de drogas ilícitas. Na amostra estudada, 76,1% estavam indetectáveis segundo seus níveis de carga viral. Conclui-se, frente a todos os resultados, que ser mulher significou possuir maiores riscos de ter excesso de gordura, através de todos os indicadores antropométricos investigados, quando comparado aos homens vivendo com HIV avaliados. Este achado pode ser um fator adicional de risco a saúde da mulher soropositiva, necessitando de maiores cuidados e intervenções. Frente à elevada prevalência do consumo alcoólico nesta população e possíveis efeitos deletérios já esclarecidos pela literatura sobre o álcool na interação negativa com a terapia antirretroviral (TARV), concluiu-se ser necessário desenvolver propostas, ações de prevenção do consumo de álcool. É preciso atender à complexidade do cuidado e à progressão da doença neste público, uma vez que este consumo pode levar a piora na qualidade de vida desses pacientes, assim como na efetividade da TARV.