Avaliação do duodeno e cólon de camundongos infectados por via oral com a cepa VL-10 do Trypanosoma cruzi.

Abstract

A doença de Chagas é uma protozoonose endêmica na América Latina, cujo agente etiológico é o Trypanosoma cruzi. No Brasil após programa de controle do seu principal vetor domiciliar, o Triatoma infestans, o perfil epidemiológico se modificou, e após inúmeros surtos devido a infecção por ingestão de alimentos contaminados pela forma tripomastigota metacíclica, a infecção pela via oral se tornou a principal via de transmissão da doença no país. Nesse sentido, o trato gastrointestinal se tornou a principal via de entrada para o parasito, porém pouco se sabe do perfil parasitológico e imunopatológico envolvendo esta infecção. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o perfil leucocitário sistêmico, a carga parasitária e o processo inflamatório no duodeno e cólon de camundongos Swiss infectados pela via oral com a cepa VL-10 do T. cruzi. Para isso, 130 camundongos foram distribuídos em três grupos experimentais: controle não infectado; infectado pela via intraperitoneal (VIP) e infectado pela via oral (VO). Foram inoculadas nesses animais 1x105 formas tripomastigotas metacíclicas provenientes de culturas acelulares por gavagem incompleta (VO) ou por via intraperitoneal (VIP). Foram realizadas eutanásias nos dias 14, 21 e 28 após a infecção (DAI), onde foram coletados fragmentos do duodeno e do cólon, obtendo então curva de parasitemia e a taxa de sobrevida; a fenotipagem de células mononucleares (monócitos, linfócitos T CD4+, T CD8+ e B) do sangue periférico por citometria de fluxo; o parasitismo tecidual pela técnica de PCR em tempo real e o processo inflamatório, por meio da coloração de Hematoxilina-Eosina. Em ambos os grupos o pico de parasitemia ocorreu no 17° DAI, a taxa de sobrevida no grupo VIP foi de 7,23%, já no grupo VO observou-se uma taxa de 23,40%, no 28° DAI. No que se diz respeito a resposta imune, observou-se aumento de monócitos em ambos os grupos no 14° e 21° DAI. Não foi observada alteração no percentual de linfócitos B e T CD4+em relação aos animais controle, já para os linfócitos T CD8+ foi observado que independente da via de inoculação houve um aumento no percentual dessas células no 21º DAI. Além disso observa-se um aumento no 21° DAI quando comparado ao 14° DAI no grupo VIP. O parasitismo mostrou-se aumentado no duodeno no grupo VO no 14 DAI, com uma queda no 21 DAI; já no cólon foi observado maior carga parasitaria no grupo VIP quando comparado com o grupo VO. Em relação ao processo inflamatório no duodeno o grupo VO apresentou intenso processo inflamatório se mantendo durante todo o experimento, já no grupo VIP observa-se queda a partir do 21° DAI. Em relação ao cólon, o grupo VIP manteve a inflamação aumentada quando comparado ao grupo controle, no grupo VO houve aumento apenas a partir do 21° DAI. Diante disso, esses dados sugerem que infecção pela via oral possui um distinto perfil de resposta parasitológica e histopatológica, observando elevada carga parasitária no duodeno dos animais infectados pela via oral, o que pode se relacionar com a manutenção do processo inflamatório neste órgão, não sendo observado o mesmo perfil nos animais infectados pela via intraperitoneal.