Do vapor à nova trilha : a obra de Don L e o realismo capitalista.

Abstract

A música representa um papel essencial na formação do indivíduo e da nossa sociedade. Quando pensamos no conceito de ideologia proposto por Marx e Engels e a consequência da influência dela na cultura, podemos questionar a dificuldade de disseminação democratizada de algumas vertentes da/na cultura. O rap, gênero musical popularizado nos bairros mais periféricos dos Estados Unidos, foi levado até lá por jamaicanos nos anos 1960 e trazia letras que compartilhavam assuntos pouco abordados musicalmente, como a violência, criminalidade, sexo e drogas. No Brasil, nos anos 1980, continuava com a proposta da partilha do que é a vivência periférica. Em ambos os cenários, o gênero sofria de uma marginalização que dificultava sua popularização midiática. Ainda hoje, produtos culturais que refletem a realidade de uma forma mais crítica possuem essa mesma dificuldade de distribuição. O mesmo acontece com produtos que inspiram as possibilidades de superação dessas crises sociais e, para além disso, despertam a percepção de que talvez essas crises sejam projetadas e o fato da sua disseminação enfrentar problemas também. Ainda assim, existem autores, artistas e veículos que propõem um contraponto, ou mesmo a solução, desses problemas: A ideologia burguesa e o Realismo Capitalista. Descrever a nossa realidade e imaginar um mundo novo são ferramentas muito importantes para a compreensão e despertar social, e a música pode ser uma grande aliada para que essas questões sejam acessadas e discutidas principalmente entre a classe trabalhadora. Para exemplificar tais reflexões teóricas, este trabalho utilizará como objeto principal a trajetória artística e midiática do rapper Don L e a sua contribuição musical para a história do gênero em território nacional, na perspectiva da superação do Realismo Capitalista e as consequências do controle de mídia da burguesia, considerando como, apesar de tudo, ainda há grande influência na formação do pensamento crítico e despertar político de seus consumidores por meio principalmente da partilha do sensível.