Mudanças nos comportamentos e na saúde mental dos adolescentes brasileiros no período da pandemia de COVID-19.

Abstract

A pandemia de COVID-19, declarada em 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), gerou repercussões globais, incluindo o isolamento social. Este estudo avalia os impactos comportamentais e de saúde mental da pandemia em adolescentes brasileiros, utilizando dados das pesquisas PeNSE-2019 e ConVid-Adolescentes 2020, de abrangência nacional e variáveis comparáveis. A análise foi realizada com estatísticas descritivas e comparações das prevalências e Intervalos de 95% de Confiança (IC95%), considerando amostras complexas e pesos amostrais, no software Stata 14. Foram analisados hábitos alimentares, prática de atividade física, tempo de tela, uso de substâncias e aspectos emocionais. Observou-se um aumento discreto no consumo de frutas (de 29,38%; IC95%: 28,81-29,96 em 2019, para 31,56%; IC95%: 30,05-33,12 em 2020). Houve uma redução significativa no consumo de cigarro nos últimos 30 dias (de 6,37%; IC95%: 5,95-6,82 em 2019, para 2,41%; IC95%: 2,02-2,87 em 2020), no fumo passivo no domicílio (de 24,20%; IC95%: 23,57-24,84 em 2019 para 20,07%; IC95%: 18,77-21,45 em 2020) e no consumo alcoólico nos últimos 30 dias (de 25,60%; IC95%: 24,86-26,35 em 2019, para 12,77%; IC95%: 11,85-13,76 em 2020). De maneira inesperada, ficar em frente à TV/telas por mais de três horas diárias diminuiu (de 47,69%; IC95%: 46,91-48,46 em 2019 para 44,57%; IC95%: 42,92-46,23 em 2020. Também, ocorreu redução nas refeições familiares (de 69,77%; IC95%: 69,09-70,45 em 2019, para 54,87%; IC95%: 53,2-56,52 em 2020) e na prática de atividade física semanal (de 64,63%; IC95%: 64,00-65,25 em 2019, para 56,59%; IC95%: 54,91-58,25 em 2020). A proporção de jovens que sempre sentiram que ninguém se preocupava diminuiu (de 13,47%; IC95%: 13,04-13,92 em 2019, para 9,01%; IC95%: 8,17-9,93 em 2020). Por fim, os adolescentes sem amigos próximos aumentaram de 3,93% (IC95%: 3,69-4,18), em 2019, para 10,38% (IC95%: 9,43-11,38), em 2020; o sentimento de irritação "na maioria das vezes" aumentou de 22,57% (IC95%: 22,07-23,07) em 2019 para 29,38% (IC95%: 27,94-30,86) em 2020 e o “sempre” cresceu de 16,96% (IC95%: 16,50-17,44) em 2019 para 19,35% (IC95%: 18,16-20,61) em 2020. Conclui-se que o isolamento social imposto pela pandemia causou impacto significativo nos hábitos de vida dos adolescentes, interrompendo suas rotinas e influenciando negativamente tanto a prática de atividades físicas quanto a saúde mental. Ao entender esses efeitos, é possível desenvolver estratégias para minimizar problemas e prevenir impactos similares em futuras pandemias.