Pressão seletiva de pastejo e o sucesso da restauração de matas ciliares sobre o rejeito da barragem do Fundão.

Abstract

As matas ciliares ou florestas ripárias, são consideradas como Áreas de Preservação Permanente (APP), de acordo com o Código Florestal Brasileiro, Lei Nº 4.771/65. Para cumprimento das leis ambientais, o Brasil deve restaurar até 2038 mais de 5 milhões de hectares de florestas ripárias somente nos domínios da Mata Atlântica. Em Minas Gerais, a demanda é 0,7Mha, o que inclui as extensas áreas que foram atingidas pelo rompimento das barragens, de Brumadinho em 2019 e Fundão em 2015 o foco deste trabalho. Afetadas pelo rejeito de minério de ferro, a restauração dessas APP’s sobre este tecnossolo tem se demonstrado uma tarefa bastante complexa, muitas vezes, de baixo sucesso e alto custo. Dentre vários fatores, a tradição regional de permitir o forrageio de rebanhos de bovinos e equinos nessas áreas, reduz o crescimento e a sobrevivência das mudas plantadas ou de regenerantes naturais, principalmente em função do pisoteio e herbivoria. Para avaliar o impacto dos animais de criação nas mudas plantadas, foi realizado estudo de comportamento dos rebanhos e, verificou-se a ocorrência ou não de preferência alimentar, ou seja, de pressão seletiva de pastejo sobre algumas espécies. O estudo foi realizado em duas etapas, a primeira houve uma falha no plantio em função da empresa contratada para tal, por isso realizamos a segunda etapa, que foi realizada em duas localidades. As áreas utilizadas para estudo se chamam UTs, uma chamada de B11, que é uma propriedade de pessoa jurídica no município de Bento Rodrigues, Mariana/MG onde há muita presença de gado, e a outra chamada de D018, localizada no município de Paracatu de Baixo, uma propriedade particular, na qual a frequência da entrada de gado é bem menor. Dessa forma, foram avaliados através de drones e monitoramentos frequentes os danos provocados pelos rebanhos, a mortalidade das mudas e o desenvolvimento das mesmas. Foi observado que a área com entrada de gado (B11) apresentou mais danos à vegetação do que a área sem entrada de gado (D018). Maiores valores de mortalidade foram encontrados nas mudas de 0,35 m em ambas etapas do estudo. Danos mais intensos foram observados em mudas de 0,35 m de Canafístula e Orelha-de-negro, e em mudas de 1,0 m de Aroeira e Pata- de-vaca no experimento 2. Em B11, danos por formigas foram menos frequentes que os causados pelo gado, exceto em mudas de 1,0 m de Orelha-de-negro. Já na D018, apresentou geralmente mais mudas afetadas por formigas do que pelo gado, com exceção de Orelha-de-negro e Pata-de-vaca (0,35 m). De maneira geral, a mortalidade aumentou de maio a julho na B11, à exceção das mudas de 0,35 m de Pata-de-vaca. Tendência de aumento de mortalidade ao longo do tempo também foi observada nessa espécie e na Orelha-de-negro em D018, comportamento oposto ao encontrado na Aroeira e na Canafístula nessa área. Além dos impactos do pastejo por gado, o estabelecimento da estação seca pareceu exercer efeito sobre a mortalidade, crescimento e rebrotas basais. O avanço da estação seca reduziu o crescimento da parte aérea em todas as espécies e tamanhos de muda, exceto pelas mudas grandes (1,0 m) de Canafístula em B11. Nessa propriedade foram registrados os maiores números de indivíduos com rebrotas basais. Na D018 não foram observadas rebrotas basais em Canafístula e em Orelha-de-negro. Em todos os casos, o número foi maior em julho. O sucesso da restauração envolve gestão do solo, escolha de espécies adequadas, monitorização contínua e engajamento da comunidade.