Lecionar ou cuidar : a docência ainda é um lugar de desejo para a mulher contemporânea?

Abstract

O artigo tem o intuito central investigar o símbolo de cuidadora atrelado à desvalorização da professora no ensino infantil. Esta questão será relacionada ao desestímulo à docência feminina no ensino superior. É tecido um diálogo entre subestima ao ofício da mulher, a dupla e tripla jornada de trabalho feminino e o conceito de acumulação primitiva sob a mulher, de Silvia Federici (FEDERICI, 2017), para averiguar a influência que o cuidado primário exerce na docência, pontuando as diferenças destas posições quando conferidas ao gênero feminino. Foi necessário a análise sócio-histórica da escolaridade feminina relatada por Jane Soares de Almeida (ALMEIDA, 2004), da formação da professora explanado por Amanda Oliveira Rabelo e António Maria Martins (RABELO e MARTINS, 2010) e a feminização docente observada por Renata Vidica Marques da Rosa (ROSA, 2011), para reiterar como o ofício da docente foi corrompido pelo feminino maternal, consideração a redução do compromisso da professora quando atrelada ao termo “tia”, exemplificado por Paulo Freire (FREIRE, 1997). E como forma de retomar a ideia da responsabilidade educacional, é pontuado a relevância da função docente pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (MEC, 2013) e, a importância da socialização para os saberes, desenvolvida por Eliane dos Santos Cavalleiro (CAVALLEIRO, 1999). A partir da figura da mulher lésbica e bissexual na universidade, exposta por Marco Antonio Torres e Amanda Pedroso (TORRES e PEDROSO, 2020), é posta a contraposição entre o ideal feminino e a pluralidade da mulher, com a intenção de ampliar a experiência de formação docente pela ótica da mulher. Nesta pesquisa é analisado o quadro de perfil do docente universitário, apresentado pelo Censo da Educação Superior de 2021 (MEC, 2021), como forma de relatar a estrutura da hierarquia de poder na educação. Levando em conta este cenário docente díspar entre gêneros, este artigo empenha esforços para promover a valorização da docência feminina, através da ação de transgressão proposta por bell hooks (HOOKS, 2013) e construção de autonomia desenvolvida por Paulo Freire (FREIRE, 1996) no ambiente de formação escolar, bem como, desencadear a valorização da educação infantil, facilitar o acesso à formação de qualidade para a docente e estimular o ingresso de mulheres na docência superior.