Incendiadas e incendiárias, caça às bruxas no Brasil contemporâneo : a presença digital de vítimas de violência de gênero no Google News.

Abstract

A seguinte pesquisa objetiva investigar, qualitativamente, o papel do jornalismo digital na perpetuação das massivas violências cometidas contra mulheres no Brasil contemporâneo. Traçando paralelos históricos e conceituais sobre o termo “bruxa”, cunhado a partir da Idade Média (ALEXANDER; RUSSELL, 2019; FEDERICI, 2017, 2019; MURARO, 2002; SILVA, 2013), busca-se observar como as práticas de violências motivadas pelo gênero no século XXI situam-se como atualizações desta antiga caça às bruxas. Dentre as perseguições, julgamentos e sentenciamentos de corpos femininos que não cumprem, fielmente, os papéis de gênero pré-estabelecidos e estruturantes da sociedade patriarcal (BUTLER, 2014; HOLANDA, 2021; SALIH, 2019; SEGATO, 2014; 2016), examina-se o modo como o webjornalismo reforça, perpetua ou cria novas violações, a partir da Análise dos Discursos (BENETTI, 2010, 2015, 2016; SILVA, 2010; SILVA, 2013) construídos em matérias localizadas na primeira página do buscador Google News. Deste ponto, aponta-se para o papel catalisador e prorrogador das violências simbólicas cometidas pelo jornalismo digital — ancorado pela masculinização e heteronormatividade inseridos nos critérios de noticiabilidade, valores-notícia, plataformização e algoritmos — às vítimas de violência de gênero, colocando-o como um agente semelhante aos combustíveis que alimentam as fogueiras Inquisicionais.