Climatério: um estudo da microbiota vaginal em usuários do Sistema Único de Saúde do município de Ouro Preto, MG.

Abstract

Introdução: A microbiota vaginal passa por alterações ao longo dos estágios reprodutivos e pós-reprodutivos da vida da mulher. Uma queda nos níveis circulantes dos hormônios gonadais no período da pós-menopausa leva a um declínio na população vaginal de espécies de Lactobacillus, o que pode conduzir a um aumento da colonização de microrganismos anaeróbios potencialmente patogênicos, resultando em infecções vaginais. A terapia hormonal estrogênica na pós-menopausa tem se demonstrado eficaz no restabelecimento da colonização de Lactobacillus no ambiente vaginal, o que promove um meio mais saudável. Objetivo: Avaliar a microbiota e os agentes inflamatórios específicos em exames de Papanicolaou de usuários do sistema único de saúde no período do climatério (pré-menopausa e pós-menopausa), entre 2014 a 2019, em Ouro Preto-MG. Metodologia: Realizou-se um estudo transversal e retrospectivo desenvolvido mediante análise do banco de dados do setor de citologia clínica do Laboratório de Análises Clínicas (LAPAC/EFAR/UFOP). A amostra foi dividida em dois grupos: Climatério/prémenopausa que englobou usuários entre 45 e 55 anos, e Climatério/pós-menopausa que abrangeu usuários com idade superior a 55 anos. Resultados: O número total de exames realizados em Ouro Preto entre 2014 e 2019 foi de 32.463. No grupo Climatério/prémenopausa foi um total de 7.563 exames realizados, sendo 1,9% de amostras rejeitadas, 0,3% insatisfatórias e 97,8% de satisfatórias. No grupo Climatério/pós-menopausa foi um total de 5.409 exames realizados, sendo 1,5% de amostras rejeitadas, 0,3% insatisfatórias e 98,2% satisfatórias. Em ambos os grupos, houve predomínio de Lactobacillus spp na composição da microbiota vaginal, com porcentagem maior no grupo Climatério/prémenopausa 3.869 (52,30%) comparado ao grupo Climatério/pós-menopausa 1.593 (30%). Conclusão: Os achados sugerem que a colonização vaginal com Lactobacillus pode ser um marcador de saúde vulvovaginal e que a terapia hormonal estrogênica pode estar relacionada a um restabelecimento da flora vaginal considerada saudável. É imprescindível que profissionais da saúde ampliem seus conhecimentos acerca da microbiota vaginal presente nos períodos do climatério e menopausa, trazendo os resultados das pesquisas atuais para a prática clínica. Programas de saúde e educação sexual devem ser difundidos para que os usuários procurem os serviços de saúde, que sejam orientados sobre a importância da realização do exame citopatológico do colo do útero, e que quando detectados agentes patogênicos, realizar tratamento adequado, evitando surgimento de anormalidades citológicas em um período delicado da vida.