Processos de preservação de fósseis de vertebrados quaternários coletados em cavernas carbonáticas de Minas Gerais e Bahia.

Abstract

Fossildiagênese é o conjunto de processos pelos quais se conservam os restos e/ou vestígios orgânicos incorporados nos sedimentos. No caso de fósseis de vertebrados coletados em cavernas carbonáticas há, basicamente, cinco processos que atuam na preservação das partes duras dos organismos: substituição, permineralização, incrustação, impressões e moldes. Esses processos são geralmente identificados com base em análises macroscópicas visando contribuir para pesquisas de bioestratigrafia, taxonomia, paleoecologia e preservação ambiental. São, porém, poucos os trabalhos paleontológicos que utilizam análises de detalhe para um melhor entendimento dos processos de fossilização. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo principal analisar as feições diagenéticas em fósseis de vertebrados quaternários encontrados em diferentes cavernas calcáreas de Minas Gerais e Bahia. Para tal, foram confeccionadas 31 lâminas de fósseis para avaliação sob microscópio óptico, das quais seis foram analisadas em um Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) acoplado a um EDS (Energy- dispersive X-ray spectroscopy) e 12 amostras encaminhadas para a difratometria de raios-X. As análises permitiram a caracterização de seis processos eodiagenéticos, dois físicos (fraturamento e infiltração mecânica de sedimentos - grãos de tamanho silte e argila) e quatro químicos (permineralização, incrustação, substituição e cimentação). Esses processos compartilharam materiais/minerais que incluíram: calcita, calcita magnesiana, aragonita, óxidos/hidróxidos de ferro e/ou manganês e argilominerais. A incrustação foi, sem dúvida, o processo mais interessante, com a sobreposição de camadas com diferentes espessuras, muitas vezes se repetindo. Algumas dessas camadas, em especial as calcáreas, semelhante ao que ocorre na formação de espeleotemas, parecem refletir as variações paleoclimáticas enfrentadas pelos restos dos vertebrados durante sua estada na caverna. Enquanto a precipitação de aragonita e de óxidos/hidróxidos de ferro e manganês representariam tempos mais secos, a calcita e a calcita magnesiana estariam vinculadas aos períodos mais úmidos. Os resultados obtidos demostraram que estudos, como o presente, permitem entender melhor o conjunto de alterações químicas e físicas sofridas pelos restos dos organismos durante sua fossilização em cavernas. Com isso, é possível avaliar de forma mais segura o grau de preservação do material encontrado, dando maiores subsídios aos trabalhos paleontológicos.