Aproveitamento de rejeito da concentração de pegmatito litinífero na fabricação de materiais cerâmicos.

Abstract

A crescente demanda por lítio, impulsionada pela transição energética e pela expansão dos mercados de baterias para veículos elétricos e dispositivos eletrônicos, tem ampliado significativamente a produção mineral do elemento e, com ela, a geração de grandes volumes de rejeitos, especialmente oriundos do processo de flotação. Esses resíduos representam um passivo ambiental relevante e despertam interesse quanto à sua possível reutilização em aplicações industriais, visando práticas sustentáveis e alinhadas à economia circular. Neste contexto, o presente estudo tem como proposta a caracterização de uma amostra de rejeito da produção de lítio proveniente do processo de flotação, com o objetivo de avaliar seu potencial para a fabricação de cerâmica branca. A caracterização da amostra de rejeito envolveu ensaios de análise granulométrica, química e mineralógica. Os corpos de prova foram confeccionados com diferentes proporções de rejeito (0%, 5%, 10%, 20% e 30%) e avaliados quanto à retração linear, limites de Atterberg, massa específica aparente, absorção de água, perda ao fogo e resistência à compressão uniaxial. A amostra revelou-se composta principalmente por quartzo, albita, microclina, muscovita e espodumênio, com distribuição granulométrica adequada ao processamento cerâmico (d80 de 167,36 µm). Quanto à composição cerâmica, os resultados demonstraram que a adição do rejeito contribuiu para a redução da porosidade e aumento da densidade das peças, com diminuição da absorção de água (de 18,88% para 13,31%) e aumento da massa específica aparente (de 1,88 g/cm³ para 2,31 g/cm³). A perda ao fogo variou de forma inversamente proporcional à quantidade de rejeito, enquanto o índice de plasticidade caiu de 7,36% (argila pura) para 3,53% (30% de rejeito), o que pode ter comprometido a resistência mecânica dos corpos, observada por meio de deformações sem ruptura. Difratogramas indicaram menor teor de quartzo nos corpos sinterizados, o que pode ter contribuído para a fragilidade observada. Conclui-se que o rejeito estudado apresenta potencial para aplicação em cerâmica branca, desde que sejam realizados ajustes na formulação, para melhorar a trabalhabilidade e a resistência mecânica dos corpos cerâmicos.