Variação merística em duas espécies de serpentes do gênero Erythrolamprus : E. maryellenae (Dixon, 1985) e E. jaegeri (Günther, 1858) (Dipsadidae). Pode ser um caso de hibridismo?

Abstract

As espécies Erythrolamprus maryellenae e Erythrolamprus jaegeri ocorrem em simpatria no estado de Minas Gerais. Descrita em 1985, E. maryellenae foi diferenciada de E. jaegeri por apresentar 19 escamas dorsais na região anterior e média do corpo, enquanto E. jaegeri apresenta 17. No mesmo trabalho, Dixon (1985) propõe a existência de uma zona de hibridização entre E. maryellenae e E. jaegeri em regiões próximas à Belo Horizonte, devido ao registro de exemplares com contagens de escamas dorsais não correspondentes a nenhuma das duas espécies. Essa hipótese não pôde ser confirmada, devido à falta de dados de localização dos possíveis híbridos. O presente estudo retoma essa questão 39 anos depois, a fim de testar a hipótese da zona de hibridização e analisar tais incertezas taxonômicas. Nesse sentido, foram levantados dados merísticos de 34 espécimes provenientes de coleções zoológicas, com o objetivo de identificar características que pudessem avaliar a ocorrência de hibridização. Foi detectado um conjunto de espécimes cuja distribuição de escamas dorsais não se encaixam claramente em nenhuma das duas espécies, podendo ser híbridos ou até uma espécie nova. A amplitude de escamas ventrais e subcaudais de E. maryellenae e E. jaegeri foi expandida. A zona de possível hibridização foi definida para a borda leste do Quadrilátero Ferrífero, nos municípios de Ouro Preto, Catas Altas e Santa Bárbara, a 77 km de distância de Belo Horizonte. Este estudo reforça a importância de estudos taxonômicos para uma melhor compreensão da biodiversidade, com foco especial para espécies com distribuição restrita em áreas sob impactos severos.