Narrativas dos moradores do Mota : da singularidade à visibilidade de uma comunidade rural de Ouro Preto, Minas Gerais.

Abstract

A população rural brasileira vive em condições de desigualdade socioeconômica, motivadas por vários problemas, dentre eles o acesso restrito à infraestrutura. Essa conjuntura determina as condições de vida e, consequentemente, as condições de saúde daqueles que vivem nestes territórios. Além disso, destaca-se a escassez de referenciais teóricos sobre os territórios rurais, as peculiaridades das pessoas que neles constroem suas histórias e o que as move em seu existir concreto. Nesse sentido, como Trabalho de Conclusão de Residência em Medicina de Família e Comunidade, desenvolvi este trabalho, com o objetivo de conhecer as singularidades e especificidades de se viver na localidade do Mota, comunidade onde estava atuando e subdistrito mais distante de sede de Ouro Preto (70 km). Para responder às perguntas: “Quem são os moradores do Mota?”; “Como viver no Mota impacta na construção dessas identidades?”, lançamos mão da metodologia da pesquisa baseada em narrativas, partindo das interpretações de mundo de cada entrevistado e do entrelaçamento de seu cotidiano com o da comunidade. Foram realizadas 5 entrevistas, das quais selecionamos 4 para análise do conteúdo, em que absorvemos tanto os elementos que estavam relacionados às teorias em estudo quanto os que emergiram com maior destaque. Em seguida, construímos uma narrativa para cada entrevistado (texto em prosa partindo dos fatos narrados em sequência temporal) e, a partir delas, propusemos a discussão desses elementos-chave. Nessa análise, destacaram-se alguns elementos comuns, como o processo de formação da comunidade, que se entrelaça à história das próprias famílias do(a)s entrevistado(a)s e como isso intensifica a construção do espírito comunitário; os problemas enfrentados pela falta de infraestrutura e como essas "faltas" inspiraram à luta da comunidade na conquista de seus direitos; a marcada influência da presença das empresas mineradoras na localidade, que permeiam toda a trajetória de vida do(a)s entrevistado(a)s, a saber: no trabalho, no trânsito de caminhões - inclusive denotando mortes de animais e pessoas, nos projetos de vida e nas formas de lutar. Além do produto escrito desta pesquisa, o trabalho foi uma oportunidade de envolvimento com a comunidade, com o objetivo comum de ouvirmos e contarmos histórias que normalmente não se contam e de (re)conhecer o Mota, esse pedacinho de Brasil rural.