A terra prometida, dispositivos de emergência no processo de reassentamento involuntário da comunidade de Bento Rodrigues em Mariana, Minas Gerais.

Abstract

Desde o fim dos anos 90, as práticas neoextrativistas, estruturadas pelo sistema econômico neoliberal, consolidaram-se em solo latino americano como atividade fundamental para o desenvolvimento econômico baseado na exploração e exportação em larga escala de bens primários. Com recorte na indústria extrativo-minerária, o neoextrativismo aprofundou a níveis extremos a exploração de minério em territórios singulares em nome do capital transnacional. Nessa conjuntura, tem-se o rompimento da Barragem de Fundão em Mariana (MG), de domínio da mineradora Samarco, e suas acionistas majoritárias Vale e BHP Billiton, em novembro de 2015, como o apogeu da exacerbação do neoextrativismo. Com o rompimento, biomas e comunidades inteiras ao longo da bacia do Rio Doce foram afetados, acarretando danos sócio-espaciais, econômicos e ambientais irreparáveis. No momento em que as populações atingidas pelo desastre têm seus modos de vida abruptamente interrompidos, seu território devastado e são obrigadas a se deslocarem para uma nova área, determina-se uma desterritorialização imposta através do reassentamento involuntário como a única alternativa para restituir o direito à moradia. Entretanto, em um cenário de crime continuado, as populações atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão vêm enfrentando constantes processos de perdas, danos e violações de direitos, revelando que as práticas neoliberais agem não somente como modelo socioeconômico imperativo, mas também como gestor do sofrimento psíquico. Nesse sentido, esta pesquisa consiste em uma análise crítica sobre os processos relacionados ao reassentamento da comunidade de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), com o objetivo de contribuir para a visibilização e problematização da luta das pessoas atingidas através de dispositivos de emergências.