Cartografia de afetos : uma análise do filme Retrato de uma Jovem em Chamas.

Abstract

Este trabalho tem por objetivo traçar uma cartografia afetiva de Retrato de uma Jovem em Chamas, sob o aporte dos estudos culturais (KELLNER, 2001), estudos feministas (LAURETIS, 1987) e dos estudos sobre lesbianidades (RICH, 2010). Compreendemos que a narrativa do filme reivindica o direito de aparecer e manifesta uma potência afetiva; como modos de encontros, de relações entre mulheres; de afetos entre mulheres. É a partir do pano de fundo dos afetos mobilizados pela intimidade entre mulheres que o trabalho se constitui. Daquilo que passa de um ao outro, que emerge dos encontros entre sujeitos – o poder humano de afetar e ser afetado. A análise foi feita em duas etapas e contribui para o avanço das discussões no campo da Comunicação Social, terreno importante para as negociações e materializações das relações. Em um primeiro momento, foi feita a decomposição das cenas e a sua descrição. Posteriormente, buscou-se compreender a relação entre as partes decompostas, ou seja, a interpretação dessas partes (PENAFRIA, 2009). A discussão articula gênero e sexualidade e olha para as mulheres em sua complexidade. Ao final, concluímos que o filme revela uma representação que se constitui enquanto fuga do imaginário daquilo que é histórico, cultural e politicamente sedimentado no inconsciente e consciente coletivo no que diz respeito às mulheres lésbicas. A construção da representação, alinhada às memórias das experiências femininas e apoiada nas lacunas deixadas pela história, fabula imagens que faltam na história e pinta os mais lindos afetos e os mais brutos sistemas.