Liberdade azul : a representação da precarização do trabalho no documentário “Estou me guardando para quando o carnaval chegar".

Abstract

Esta monografia analisa o documentário “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” (2019) para verificar como o processo de precarização do trabalho é representado no filme. O material mobilizado para servir de base teórica para nossa investigação trata da adesão social à razão neoliberal (DARDOT; LAVAL, 2019) e a reestruturação produtiva (ANTUNES, 2009) como processos que fortalecem a precarização do trabalho no Brasil. A partir dos relatos dos personagens no filme buscamos analisar como o modelo de produção remunerado por peça é um dos fatores que impelem o trabalhador a extensas e intensas jornadas de trabalho (MARX, 2013). Além disso, também mobilizamos o discurso fílmico para investigar as condições materiais de trabalho e indicamos a presença de cargas de trabalho excessivas (LIRA et al., 2018) na produção de peças em jeans. Apesar de estarem em um contexto precário, o discurso dos trabalhadores indicam a existência de uma satisfação em realizar suas atividades laborais, pois, sendo donos de pequenas facções, julgam possuir o controle de seu próprio espaço e tempo. Nesta pesquisa, contudo, procuramos investigar como as estratégias de disciplina neoliberais se relacionam com esse sentimento positivo de independência e ocasionam a autoexploração desses trabalhadores (HAN, 2018). Os momentos de lazer e descanso do trabalhador são representados a partir do evento da semana do carnaval e, visto que há um rompimento com sua rotina produtiva, serão analisados nesta pesquisa como momentos que recuperam uma possível liberdade dos personagens (HAN, 2015). Sendo assim, nos apoiamos no material fílmico para discutir e identificar diversos aspectos do problema do processo de precarização do trabalho em facções têxteis e, tendo a análise do discurso como abordagem que nos permite a observação da relação de nosso objeto com o contexto social e histórico, visamos mostrar a relevância das produções audiovisuais, especialmente do gênero documentário, como meios de discutir as condições de vida da classe trabalhadora brasileira.