Projeto de 50 anos do Jornal Nacional : sotaques e preconceito linguístico na construção de uma ideia de nação.

Abstract

Este trabalho discute as tendências de padronização da fala dos jornalistas brasileiros por meio do apagamento de marcas de sotaque que compõem suas identidades, a partir do Especial Jornal Nacional 50 anos. Os principais conceitos abordados na discussão são preconceito linguístico (Bagno, 2007), estereótipos e representações (Goffman, 2002), identidade nacional (Hall, 2003) e a ideia de nação como comunidade imaginada (Anderson, 2005), visando entender no que se baseia o preconceito linguístico, como a ideia de nação e a busca de uma identidade nacional homogênea geram as tendências padronizadoras e qual é o papel dos estereótipos e das representações na construção da ideia de nação. A partir disso, realizamos uma análise do encontro entre os modos de endereçamento do Especial e a recepção do público por meio de comentários do Twitter sobre a programação. O objetivo da análise é entender de que modo a programação que prometeu inserir apresentadores de todos os estados brasileiros na bancada do telejornal contribui para desestabilizar o que os manuais de locução definem como regra. Para isso, foram definidas quatro categorias de análise: a presença de marcas de sotaques na apresentação do Especial, as limitações de representatividade na dinâmica do Especial, os estereótipos reproduzidos da condução dos programas e os desdobramentos. As conclusões do trabalho indicam que os programas não mostraram os sotaques em suas totalidades, que o Especial apresenta algumas limitações de representatividade, que alguns estereótipos foram reproduzidos e que, apesar de a proposta ter rompido alguns paradigmas da emissora, ainda há muito a fazer para mudar essa realidade.